7 de novembro de 2012

DRAMA: “Bebemos água com lama e o gado morreu faz tempo”, avisam agricultores

Por  (Farol de Noticias)
 
O drama dos agricultores serratalhadenses está cada vez pior. Em conversa com o FAROL DE NOTÍCIAS, muitos relataram que a situação agravou-se no campo por conta da falta não só da água, mas de comida. O rebanho de boa parte dos pequenos produtores já morreu de fome e sede. E as “cabeças de gado” que restaram acabaram sendo vendidas, como eles próprios citam: “a preço de nada” ou “praticamente de graça”. O FAROL visitou a assembleia geral dos agricultores, ocorrida na manhã dessa segunda-feira (5), na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Serra Talhada, e colheu depoimentos emocionantes. Se falta de tudo, mas ainda existe voz, dizem eles, então a hora é de gritar. Confiram o Fala Povo desta semana:
 
 
ANTÔNIO GOMES, 52 ANOS, AGRICULTOR NO ASSENTAMENTO BATALHA
“Água nem pra bicho eu tenho mais na minha terra. Estamos pegando um pouquinho que mina de um poço para botar pra eles (os bichos) em um coxo. Eu vejo o desespero do meu gado quando cai um pouco de água no chão, e eles brigam pra ver quem vai lamber a terra que ficou molhada. Já perdi seis cabeças de gado. O problema é que nem água para beber estamos tendo mais. Graças a uns carros-pipas que chegam uma vez por mês dá pra evitar o pior. Mas o problema maior é que estamos tentando cavar algums cacimbas por lá e esperando a água minar, aí quando ela mina coamos e bebemos. Isso mesmo, bebemos ela com lama. O ruim também é que ficamos esperando esses governos fazerem algo e é só conversa”.
 
 
ODAIR JOSÉ, 40 ANOS, AGRICULTOR EM SÃO JOÃO DOS GAIAS
“Minha situação é essa: tenho que andar, todos os dias, 6 km da minha casa até um pequeno barreiro que ainda existe por lá. Eu ando esse tanto acompanhado do meu gado, alguns bois, e levo eles pra esse lugar só para eles beberem água. Aí, os animais tomam alguma coisa que ainda existe e eu volto tangendo eles de volta para casa. O meu gado só bebe água uma vez por dia, depois que a situação piorou. Aí, eles chegam em casa e se deitam. Passam o dia assim. Pois não têm mais força de trabalhar. Minha esperança agora é esperar a chuva chegar pra vê se eles engordam. O meu plantio já se foi e só estamos vivendo com a ajuda do governo”.
 
 
ELIAS DE MELO, 67 ANOS, AGRICULTOR EM POÇO ESCURO
 “Essa história de que o milho vai chegar já não adianta mais pra mim, porque o meu gado boa parte já morreu sem ter o que comer. Eu vendi o restou a preço de nada, e o milho não chegou. Pra quê eu vou querer isso agora? Sabe quando você chega em um hotel e ‘diz eu quero um almoço’, aí respondem: ‘só amanhã’… Pois bem, é essa história do milho. O tempo que estávamos precisando disso era em junho, quando a seca começou braba mesmo. Já estamos em novembro. O gado já morreu, minha gente. Está havendo é muita conversa e pouca ação. Outra coisa são essas caixas d’águas que eles dizem que vão dar (governo do Estado). Pra quê agora? Se não temos água… É uma boa ação? É! Mais que deveria ser pra mais pra frente… no período das chuvas. Do mesmo jeito é querer vir fazer cacimba de última hora como o IPA anda fazendo…”
 
 
JOSE ANTÔNIO, 60 ANOS, AGRICULTOR EM SÃO JOÃO DOS GAIAS
“A situação está precária e estou com a ideia para levar para o sindicato de fazermos um protesto colocando os ossos de todo o nosso gado que morreu de fome na estrada pra exigir uma solução pra isso. Eu já perdi mais de 10 rês e o prejuízo é grande. Talvez mostrando os ossos dos animais que nos dão força, esse milho chegue logo pros nossos bichos, ou eles vejam outra solução, como a distribuição do bagaço da cana. Queremos urgente esse alimento para o nosso gado”.

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